quinta-feira, abril 19, 2007

Inland Empire

Antes de mais devo começar por dizer que sou um adepto dos filmes e do trabalho de David Lynch: ‘Mulholand Drive’ e ‘Lost Highway’, estão presentes na minha biblioteca de Dvd’s e fazem parte da minha lista de favoritos da 7ª arte. Foi com alguma sede de ver o seu novo filme que decidi embarcar em mais uma viagem pelo mundo louco de David Lynch…num comentário num outro ‘sitio’ dizia que era de ‘apertar o cinto’: pois bem…apertei muito bem o cinto e lá fui eu.

Inicialmente e como é habitual, nos primeiros 30/40 minutos do filme, ainda pensei que poderia estar perante um trabalho mais óbvio (se é que isso é possível nele) de David Lynch, em que fosse possível construir (ou pelo menos tentar) uma história. Mas foi como as equipas de futebol que correm durante meia hora e depois vão-se as forças e as pernas e é cada um para seu lado: foi mais ou menos assim. A partir desta altura, muito pouca coisa continua a fazer sentido.


Que David Lynch parece não conseguir (deve saber mas não quer) fazer um filme dito ‘normal’ com princípio meio e fim, já todos sabemos. Mas ‘Inland Empire’ extrapola tudo o que eu pensava ser possível fazer no grande ecrã. É certo que é possível pegar em partes soltas do filme, cortá-las, recortá-las, tirar um pouco daqui, um pedaço dali e mais um excerto doutra parte qualquer….mas isso fará tanto sentido quanto fazer outra coisa qualquer, ou até não fazer nada. Lynch não se preocupa em perguntar o que quer que seja ao espectador….apenas dá um bilhete para uma viagem ao seu sub-mundo verdadeiramente louco.

Cada pessoa tem os seus sonhos e quando acorda pode até pensar neles, mas dificilmente encontra um fio condutor lógico. Lynch coloca-nos em sonhos variados partindo todos da mesma cabeça, projectando imagens e fragmentos, ideias e pensamentos disparados em várias direcções, aparentemente sem qualquer sentido. É isso que torna interessante e estimulante o seu trabalho: pôr o cérebro a funcionar a um ritmo impensável, mesmo quando sabemos que vamos entrar numa sala para assistir a um filme dele.

'Inland Empire', é um vaivém impressionante, um constante vai e volta a uma velocidade incontrolável…a mesma cara em personagens diferentes numa mesma dimensão, ou a mesma cara em dimensões diferentes, paralelas, distantes ou até quiçá inexistentes.

São cerca de 3 horas de projecções, personalidades duplas, algum ocultismo e sobrenaturalismo, saltos no tempo (para a frente e para trás); são quase 3 horas de virar do avesso, e ver ao contrário, virar de pernas para o ar e ver (ou imaginar) de trás para a frente. Mantém-se (como era expectável) uma forma diferente de filmar (na verdadeira acepção da palavra), com um ar mais cru que emprega ao filme um ‘aspecto’ ainda mais insano.

Laura Dern (‘Blue Velvet’, 'Wild At Heart’ ou ‘Jurassic Park’) – Nikki Grace, ou Sue no filme, é alvo central de tudo o que se passa na tela. Seja no papel de actriz, de personagem, de mulher traída ou traidora, revoltada ou resignada, ela está um pouco por todo o lado, pintada de várias formas e vista de vários prismas: a sua performance é a todos os títulos excepcional e verdadeiramente marcante.

'Inland Empire' é David Lynch levado para lá da sua própria loucura: personagens estranhos, diálogos surreais, frases (aparentemente) sem sentido, planos que aparecem vindos do nada e que desaparecem com a mesma facilidade, como autênticos ‘pop-ups’. E o que dizer da aparição de Laura Harring e Natasja Kinski durante 2 ou 3 segundos na cena final do filme? E terminar o filme com Ben Harper de chapéu, cigarro na boca sentado ao piano ao som de ‘Sinnerman’ de Nina Simone? Haverá resposta para isto?



É simples…é David Lynch.

Nota: 9/10

1 Comments:

At 3:34 da tarde, Anonymous Anónimo said...

E "uma história simples", (é assim o nome), esse é um filme "normal", e sequêncial. E muito bonito e ternurento, já agora.
Ando à procura do meu DVD e não o encontro. Se o vires por aí, é meu.

 

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