Laranja Mecânica
Que o realizador Kubrik fazia grandes filmes, já eu sabia; que ‘A Laranja Mecânica’ era fantástico, também eu estava careca de saber...mas vê-lo assim, foi de um impacto tal que dificilmente me irei esquecer de qualquer cena do filme, nem tão pouco da banda sonora que o acompanha e que lhe dá uma quota parte da força que ele tem.
‘A Laranja Mecânica’ (1971) é uma adaptação ao cinema de um livro de Anthony Burgess escrito quase uma década antes, e mostra-nos, um jovem inglês líder de um pequeno Gang de jovens delinquentes que se divertia a procurar o prazer através da violência. A crueldade deste grupo espelha-se de várias formas e em vários actos que vão desde lutar com gangues rivais, a roubos de carros para provocar acidentes nas estradas, invadir casas, violar mulheres e outros negros exemplos do que o pérfido comportamento humano é capaz. Tudo nos é mostrado através dos olhos distorcidos e da mente altamente perturbada de Alex, que tem como prazer o caos e a música de Beethoven. Ele é inconsequente e extremamente cruel dado que os seus actos não o levam a lado nenhum a não ser o momento em que os pratica e de uma forma ou de outra vai mostrando a insanidade que paira no seu interior, e a dor que também provoca a ele próprio, demonstrada pelas constantes e violentas dores de cabeça que o afectam.Do momento em que Alex acaba por ser preso, à sua saída da prisão é das fases mais impressionantes de todo o filme. O terrível e cruel Alex, é submetido a um tratamento em que a violência e a crueldade da raça humana são o próprio método, remédio e cura. Parece um contra senso, mas ao ser exposto a actos da mesma índole do que os que o levaram à prisão, a mente de Alex cria uma autodefesa contra esses mesmos actos…uma autodefesa que no entanto o vai destruindo cada vez mais um pouco…
A realização de Kubrik é simplesmente fabulosa e toda a construção da personagem de Alex é algo de verdadeiramente sublime. A mente distorcida, cruel, violenta e desprovida de qualquer noção de vida em sociedade é o elemento-chave em torno do qual gira toda a acção do filme. Uma coisa que me impressionou em ‘A Laranja Mecânica’ foi a capacidade que Kubrik teve em 1971, de criar todo um mundo novo, com cenários muito adiantados para a época: desde os pormenores dos interiores das casas, à decoração das salas e quartos e do bar que o grupo frequentava, à própria linguagem criada por Burgess e passada para a tela, tudo é altamente eficaz e brilhantemente concebido. Assim como noutros filmes seus, em que são postas a nu várias contradições e são colocados em oposição vários conceitos, o mesmo acontece aqui: de um lado temos a violência dura e crua, e de outro a música de Ludwig Van Beethoven, que anda sempre a par de Alex.Este foi certamente o filme da vida para Malcom McDowell. Ainda muito novo, coube-lhe a difícil tarefa de encarnar no grande ecrã um personagem extremamente complexo e complicado de criar. Mas normalmente são esses mesmo papéis que ficam para a história e neste caso, Alex é um dos personagens mais memoráveis da sua carreira e de todos os filmes do realizador Stanley Kubrik. É impressionante o realismo que transparece no olhar e nos movimentos de Malcom McDowell enquanto actor e de Alex enquanto personagem: ficará para sempre marcado por este filme e pela sua fantástica e brilhante performance.
Para mim que já conhecia o que era ‘A Laranja Mecânica’, vê-la em filme foi algo que certamente não irei apagar (até porque mesmo que quisesse não conseguiria). Depois de ver este filme, a forma de olhar para o cinema será certamente diferente e essa também é uma das suas virtudes: não consegue deixar ninguém minimamente indiferente…o filme afecta a mente e o pensamento do espectador….mas afinal de contas essa é certamente (senão a maior,) uma das suas maiores virtudes. BRILHANTE!!!NOTA: 9,5/10


…tudo menos o Rádio. Prenda de anos, oferecida no dia 10 de Junho de 2004 (6 dias antes do aniversário), data do mal-lembrado Portugal-Grécia de abertura do Euro’04. O rádio que fez alguns milhares de quilómetros e que fez rodar os meus melhores cd’s…FOI-SE!!! Todo este infeliz e miserável episódio teve o condão de conseguir estragar os últimos dias de férias, de deitar por terra o feriado (que mal tinha começado) e de me impregnar de uma raiva capaz de destruir a Montanha de Fogo do Tolkien, de rebentar com toda a Muralha da China, de acabar com a Matrix e de dar cabo do(s) infelize(s) que tiveram a triste ideia de o levar com eles…:”era espetá-los num pau com fogo por baixo a ver se eles não gritavam…ai não que não gritavam”. Cambada de…não posso dizer…mas apetece-me…só que não posso…mas apetece-me mesmo…mas não posso...mas pronto: fico-me com a raiva pelo sucedido e pela tristeza do ‘adeus’ ao meu rádio’…Irra…qual tristeza: é mesmo só raiva: 



‘O Jogo’ é uma autêntica montanha-russa, em que tudo acontece na vida de Nicholas Van Orton. Sem perceber muito bem de onde, pessoas vão aparecendo e eventos vão-se sucedendo a uma velocidade incrível. Para quem como ele, tem tudo controlado em advogados, agendas e telemóveis, pior era difícil. Aos poucos, a sua vida está completamente fora de controlo, e às páginas tantas ele começa a perder o seu próprio controlo. Já não sabe no que e em quem acreditar: parece que todos se viraram contra ele, incluindo o próprio irmão e que o seu mundo organizado e repleto de poder está prestes a desabar de vez a qualquer segundo. Uma coisa ele sabe…está a viver ao vivo e in loco ‘O Jogo’. O que ele não sabe é o que é ‘O Jogo’ nem sequer quem faz parte dele, e se algum dia terá fim…e será que o seu próprio fim estará para chegar?
‘O Jogo’ é realmente um filme de eleição, e mesmo depois de já visto, fica sempre aquela sensação de se estar a ver algo ‘novo’ e surpreendente. O enredo é verdadeiramente uma criação de mestre, e prende a respiração e a atenção dos espectadores até ao último instante. A direcção artística (assim como a fotografia e banda sonora) é brilhante, os cenários são criados a preceito e a própria mansão de Nicholas é exemplo disso mesmo: isolada e afastada da grande cidade, a casa é um lugar sombrio e escuro, revelador da vida do personagem central do filme.
Michael Douglas tem um desempenho de ‘se lhe tirar o chapéu’, mas Sean Penn e Deborah Kara Unger (Christine) não lhe ficam atrás. Apenas ajudam á loucura que se vai aos poucos instalando na cabeça de Nicholas. Numa palavra: GENIAL.



Alternando situações pseudo-dramáticas sempre debaixo de um tom cómico, ‘Hoax’ é um filme engraçado em que num ritmo por vezes verdadeiramente alucinante, já nem o próprio espectador sabe o que é ou não é verdade, o que realmente aconteceu ou o que apenas aconteceu na cabeça de Clifford Irwing. Por muito bem montada que uma mentira seja, normalmente é-se sempre apanhado…e a questão está em até onde o autor do embuste é capaz de ir. O filme termina ao som dos Stones e de Mick Jagger: ‘You can´t always get what you want’…quererá dizer o quê?
PS: 